sábado, 12 de novembro de 2016

O revolucionário em Consciência de Krishna


É dito que o revolucionário deve descartar todas as amizades, todo o amor romântico, toda a família, etc. com o objetivo único de revolução. Até mesmo o seu próprio aprisionamento ou morte, não lhe perturbam. O revolucionário em Consciência de Krishna deve pensar da mesma forma. Para a revolução em nome de Krishna.

Ao invés de fazer alguém como Stalin ou Hitler, o líder supremo. O líder Supremo deve ser visto como Krishna. É somente Krishna, que é o benfeitor único da humanidade.

Um revolucionário que está ocupado na prática espiritual de Consciência de Krishna, está não somente em uma posição de ajuda a humanidade como um todo, mas também na posição de transcender os três modos da natureza material. Portanto, ele sabe que superestimar a vida familiar, esposa, filhos e outros é prejudicial. Mesmo no relacionamento como casado, sexo é somente para o propósito de fazer filhos em Consciência de Krishna.

O revolucionário em Consciência de Krishna deve se esforçar para manter sobre controle qualquer coisa que seja prejudicial ao serviço devocional a Krishna. Portanto ele não deve colocar o sexo ilícito acima da revolução para Krishna. Liberação sexual e feminismo são todos ideais de patifes. O que é a liberação sexual? Uma vida de consciência animal; de um cachorro ou gato. O feminismo remove a necessidade de uma mulher de casar e sustentar crianças conscientes de Krishna. Ao invés disso, as mulheres podem ser patifes em seus desejos sexuais. Patifes no seu ganho monetário e outros "frutos do trabalho". Um homem pode casar um homem e satisfazer seu próprio apetite sexual artificialmente. Tudo isso é pura patifaria.

O revolucionário em Consciência de Krishna trabalha para os direitos dos animais por se abster de comer carne, sabendo que se ele comer carne, na próxima vida ele poderá certamente ser comido como um animal. O abuso de vacas foi inaugurado na era obscura de Kali-Yuga. Ao invés disso, deve haver um foco na proteção de vacas, uma vez que Krishna é conhecido como Govinda - o protetor das vacas. A mãe vaca dá mais leite do que o necessário para o bezerro, portanto ela é uma das mães da humanidade. Ninguém iria matar e comer sua mãe, exceto no nosso caso, que é o que acontece quando se nós comermos carne. O abate de vacas é muito pecaminoso e deve ser cessado.

O que dizer dos direitos humanos? Ações tais como anti-racismo quando baseados no materialismo nunca irão ser bem sucedidos. Ao invés disso, a sociedade deve ensinar que nós não somos o corpo e sim alma espiritual. Dessa maneira, não somente o racismo seria eliminado, mas descriminação de gênero e idade também seriam eliminados e os direitos animais também seriam satisfeitos. Os humanos e os animais então poderão coexistir e eles próprios existirem de maneira pacifica.

Os direitos dos trabalhadores irão ser restabelecidos quando a verdadeira ordem da sociedade tiver retornado. Os trabalhadores devem trabalhar para Krishna e não ser transformados em escravos do capitalismo. Ao invés de uma hierarquia baseada em raça, baseada em classe, haverá uma em que todos trabalham como iguais em serviço devocional a Krishna. Portanto, o objetivo ultimo ao liberar o trabalhador é assegurar que eles não trabalhem mais para pagar taxas, débitos, etc. Mas trabalhem para Krishna e uma sociedade espiritual. É dever do  revolucionário em Consciência de Krishna criar uma sociedade onde todos sejam livres para trabalhar para Krishna. O mestre mais misericordioso e o benfeitor da humanidade.

O revolucionário em Consciência de Krishna deve o tempo todo se lembrar e pensar em Krishna. Suas atividades revolucionárias devem ser conscientes de Krishna. Sua revolução é para Krishna. O trabalhador pode ser libertado pela Consciência de Krishna, não por coisas ou atos materiais. Uma sociedade humana que não ensina indivíduos a se livrarem de um nascimento inferior, é uma sociedade ignorante. Não devemos derramar uma lágrima sequer para tal sociedade. Ao invés disso nós devemos destruir tal sociedade e substitui-la com uma sociedade espiritual. Esta é a revolução da Consciência de Krishna e o objetivo do revolucionário em Consciência de Krishna.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Terceira Posição: História e Ideologia


Terceira Posição - um futuro além da esquerda e direita



TERCEIRA POSIÇÃO: HISTÓRIA E IDEOLOGIA.


Tradução: Gabriel Pimentel.

"Recentemente tem havido algumas discussões no que diz respeito ao que constitui ao terceiro posicionamento politico. Eu decidi tomar ele próprio como tema, e iniciar uma discussão sobre a história da terceira posição, suas variantes, e algumas dessas variantes como princípios ideológicos.

Eu não quero que este tema para se degrade em um debate sobre se ou não conceitos tais como o nacional-anarquismo são compatíveis com o nacionalismo terceirista, esta discussão é principalmente sobre a história e a ideologia dos movimentos de terceira posição, por isso peço a todos centrem esta conversa em torno destes temas exclusivamente.

Definição:


O conceito de terceira posição é algo muito básico. É uma vértice que se dissipa entre o capitalismo e o socialismo, algo como uma "terceira opinião".
Os historiadores e teóricos políticos normalmente usam o termo para descrever várias correntes ideológicas nacionalistas que se originaram no início do século 20 e que continuam a ser promovidas por vários partidos e movimentos políticos de todo o mundo nos dias atuais.

A crítica.

-Crítica contra o Comunismo-

Uma crítica comum da terceira posição -de todos os níveis variáveis - contra o comunismo é que seu cosmopolitismo utópico é inerente à natureza global. Teóricos de terceira posição, sendo nacionalistas, sentem que o internacionalismo entra em fundamental desacordo com o etnocentrismo inato da humanidade, que é um aspecto significativo da natureza humana. Terceiristas também sentem que é indesejável para a humanidade abraçar o internacionalismo, pois acaba por destruir a diversidade cultural e racial.
O paraíso anárquico que Marx previu após o resultado final do comunismo (após a fase de transição socialista) é visto pelos adeptos da terceira posição como sendo basicamente inatingível, por isso também contraria a aspectos da natureza humana, particularmente após a idade industrial.

-Contra o Capitalismo-

O capitalismo é visto pelos adeptos da terceira posição como explorador, injusto, anti-social, e ao contrário as noções de solidariedade nacional e racial. O Teórico nacional-revolucionário Gregor Strasser descreveu a crítica do capitalismo de terceira posição da seguinte maneira:

"Nós somos socialistas. Nós somos inimigos mortais do sistema econômico capitalista de hoje com a sua exploração dos economicamente fracos, seu sistema de salário injusto, sua maneira imoral de julgar o valor dos seres humanos em termos de sua riqueza, seu dinheiro em vez de a sua responsabilidade e seu desempenho, e estamos determinados a destruir este sistema aconteça o que acontecer!"

Variantes:

Uma vez que a terceira posição é um termo vago, um número de diferentes ideologias abrangem a sua classificação;
a única coisa que todos eles concordam, é a sua posição comum contra o capitalismo e o comunismo.

NACIONAL-SOCIALISMO

(Também referente a "Social-nacionalismo", "socialismo nacional", etc...)

Como o termo "terceira posição", o nacional-socialismo é um termo amplo que abrange uma ampla gama de diferentes interpretações e manifestações. Ao contrário da crença popular, NSDAP de Adolf Hitler (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães) não foi a primeira ou única vertente do socialismo nacional que existiu.
O termo originou-se quase simultaneamente na França, na Tchecoslováquia e na Áustria no final de 1800, embora conceitos socialistas nacionalistas existiam bem antes do termo em si.

O romancista francês, Dreyfus, e um político socialista, Maurice Barrès, o primeiro a evocar a frase "nacionalismo socialista" em sua campanha eleitoral 1898. Como a maioria de suas campanhas, Barrès correu em uma plataforma de "nacionalismo, protecionismo, e socialismo".

Além de ser um dos primeiros notáveis políticos socialistas nacionais, Barrès também foi um dos primeiros teóricos políticos franceses a desenvolver um conceito de nacionalismo étnico. As teorias de Maurice Barres passou a influenciar, posteriormente, várias manifestações do nacional-socialismo e do fascismo na Europa -em particular o primeiro movimento de massa socialista nacional, 300.000 membro do sindicato Socialista Amarelo de Pierre Biétry.

Em 1898, o Partido Social Nacional Tcheco foi fundado. O partido apoiou uma fusão de nacionalismo e socialismo. O programa de 25 pontos elaborado por Adolf Hitler, Anton Drexler, e Gottfried Feder, e adotado pelo NSDAP, foi muito influenciado pela plataforma do Partido Nacional Socialista Tcheco.

A Liga Nacional dos Trabalhadores Alemães da Austria mudou seu nome para "Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores" em 1918, em torno de um nacionalismo pan-germânico com uma plataforma socialista, que lembra as políticas abraçadas pelo NSDAP de Hitler. Em 1930, o partido estava dividido em duas facções, uma favorecendo uma estrutura democrática, e o outro favorecendo a campanha de Adolf Hitler -o partido em última análise se fundiu com o NSDAP após a anexação da Áustria ao Terceiro Reich.-

-HITLERISMO -

Poucos negariam que o hitlerismo, isto é, a expressão única de socialismo nacional estabelecido por Adolf Hitler é a variedade mais proeminente do nacional-socialismo na história. Antes de explicar as características distintivas do nacional-socialismo hitleriano, vou descrever brevemente as origens do NSDAP e associação de Hitler com o partido.

Anton Drexler, um socialista auto-identificado, fundou o Partido dos Trabalhadores Alemães em 1919 sobre o princípio da criação de um novo partido socialista que também fosse nacionalista por natureza. Depois de alguma hesitação e sobre revisão e aprovação da brochura de Drexler, aderiu ao Partido dos Trabalhadores Alemães em setembro de 1919, tornando-se o 55º membro do partido e o sétimo membro do comitê executivo do partido.

Hitler posteriormente sugeriu a mudança do nome do partido para Partido Social-Revolucionário, mas em fevereiro de 1920, o Partido dos Trabalhadores Alemães mudou seu nome oficialmente para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Em 1921, Adolf Hitler tornou-se, basicamente, o líder indiscutível do partido, e por volta de 1923 Drexler se demitiu do NSDAP.

Hitlerismo distingue-se por um certo número de características:

* O Führerprinzip: Basicamente, a vontade política da nação está incorporado no Führer, abolindo a maioria das formas de democracia.

* Pangermanismo: A noção de que todas as pessoas de ascendência germânica devem ser unificadas através de um Reich alemão.

* Lebensraum: Hitler acreditava que a Alemanha não tinha o espaço vital imprescindível para a população excedente do Reich, e concebeu uma teoria expansionista em que os povos germânicos iria resolver os problemas da Europa Oriental.

* A eugenia: De acordo com as crenças racialistas de Hitler, o Terceiro Reich implementaram leis eugênistas para o reforço do desenvolvimento racial. O NSDAP também aprovou uma legislação proibindo a miscigenação (Leis de Nuremberg).

* Dirigismo: Adolf Hitler preservava a propriedade privada sobre a maioria das empresas, sob a estrita condição de que o Estado regulamentaria essas empresas para se adequarem aos interesses coletivos da nação. Tais regulamentos incluindo controle de preços, controles de salários, segurança no trabalho, controles de investimento, restrições a dividendos, quotas de produção e estado direcionado comércio.

O banco central da Alemanha foi nacionalizado como as empresas que não cumprissem as leis estaduais. A maior empresa estatal operada na Europa também foi estabelecida sob o Terceiro Reich, a Reichswerke Hermann Göring.

* Bem-Estar Social: Além das características socialistas óbvias encontradas dentro dirigismo do Terceiro Reich, o regime de Hitler também implementou várias medidas de bem-estar social. Um programa de cuidados de saúde socializado foi iniciado, ampliando a cobertura a todos os cidadãos alemães; projetos de obras públicas foram criadas para combater o desemprego; segurança social foi ampliada; casas de baixo custo foram construídas para o proletariado alemão contando com 1,458,128 unidades construídas entre 1933-1937; generosos empréstimos, benefícios fiscais e serviços de bem-estar foram dadas a famílias alemãs; férias pago a todos os trabalhadores alemães, bem como eventos culturais gratuitos para assistir, etc.

- STRASSERISMO -

Gregor Strasser se juntou ao NSDAP em 1921, e seu irmão mais novo, Otto, juntou-se em 1925. Ambos os irmãos, juntamente com camaradas do partido, como Joseph Goebbels, conceberam uma corrente ideológica dentro do NSDAP que se diferenciava das políticas mais moderadas favorecidas por Hitler, e as teorias monetaristas promovidas por Gottfried Feder.

O nacional-socialismo dos irmãos Strasser contém as seguintes características:

* Colaboração Europeia: Em contraste com o imperialismo pan-germânico e com o nordicismo endossado por Hitler, o strasserismo defende e promove o pan-europeísmo. Este pan-europeísmo implicaria uma cooperação económica entre todos os parceiros europeus, de modo a evitar os aspectos contraproducentes de competição econômica entre os estados europeus.

Otto Strasser acreditava que todos os europeus eram de ascendência racial semelhante e, portanto, rejeitava fundamentalmente qualquer teoria de superioridade entre nacionalidades ou sub-raças europeias. No entanto, Strasser também acreditava na preservação das culturas originais e etnias.

* O federalismo: Otto Strasser defendeu a descentralização da Alemanha, que transformaria o país em várias regiões culturais distintas que seriam comunidades autônomas de auto-governo, porém todas as regiões praticariam o mesmo modelo econômico socialista nacional.

* Socialização: Os irmãos Strasser (e muitos outros membros do NSDAP) defendiam a coletivização imediata dos meios de produção. Conselhos operários iriam coordenar seus locais de trabalho, com a supervisão do Estado para garantir que essas empresas estavam agindo de acordo com os interesses nacionalistas. A burguesia seria abolida e assimilada ao novo modo de produção socialista. O capital financeiro também viria a ser nacionalizado pelo Estado.

* Reforma Agrária: A facção Strasser do NSDAP defendia a desapropriação do latifúndio na Alemanha, com a terra a ser redistribuída para as famílias camponesas. Todas as terras seriam de propriedade do Estado, mas agricultores familiares possuiriam título hereditário dos terrenos. As fazendas permaneceriam na posse de cada família até que a família já não tenha nenhum descendente disposto a cultivar a terra.

Depois da queda do Terceiro Reich, vários partidos socialistas nacionais surgiram na Alemanha, e em todo o mundo, o Partido Socialista do Reich de Ernst Remer e o partido União Social de Otto Strasser foram os mais notáveis.

O Partido Socialista do Reich, financiado em parte pelo governo soviético para desestabilizar o governo ocidental, logo atraiu um apoio significativo entre a população da Alemanha Ocidental, mas foi proibida sob as leis de "desnazificação" estabelecidas pelo novo governo alemão.

Otto Strasser, que foi finalmente autorizado a regressar à Alemanha em meados de 1950, foi preso devido a declarações anti-semitas que fez em público, enquanto promovendo seu novo partido político. O Partido União Social em última análise, atraiu poucos seguidores.

NACIONAL SINDICALISMO

O sindicalismo revolucionário tornou-se uma corrente muito popular na Europa no início do século XX, especialmente na França, Itália e Espanha. No entanto, até o início da Primeira Guerra Mundial, uma divisão histórica surgiu dentro dos movimentos sindicalistas e socialistas entre indivíduos e organizações que apoiaram a participação na guerra contra aqueles que defendiam a neutralidade.

Na sequência da cisão dentro do movimento sindicalista, a facção pró-guerra começou a se tornar mais franca sobre seus pontos de vista nacionalistas. Enquanto o movimento sindicalista revolucionário não admitia nada além do internacionalismo proletário, estes sindicalistas nacionalistas rejeitavam o internacionalismo marxista e afirmavam a legitimidade do Estado-nação.

Os sindicalistas revolucionários teorizaram um modo de produção socialista onde os trabalhadores seriam os proprietários dos meios de produção e conselhos de trabalhadores, estes também iriam gerir as suas empresas no âmbito de uma sociedade sem estado.
O Movimento Nacional-Sindicalista também se demonstrou favorável a propriedade do trabalhador e a gestão de meios de produção, mas no âmbito de um Estado-nação, com o governo como co-proprietário, e as empresas co-gestionadas pelos conselhos operários.

"Cercle Proudhon" de Georges Valois, fundado em 1911, foi uma das primeiras organizações envolvidas no cultivo de teoria Nacional Sindicalista.

O movimento fascista de Mussolini foi inicialmente associado com o Movimento Nacional Sindicalista, embora ao longo do tempo o partido fascista tenha vindo a adotar a sua própria forma de ideologia; o corporativismo.

Antes da Guerra Civil Espanhola, Ramiro Ledesma Ramo estabeleceu o seu próprio Partido Nacional Sindicalista (a JONS) na Espanha. O JONS obteve progressos significativos entre os círculos socialistas e anarquistas na Espanha, mesmo com o seu programa político sendo revisto pelo comitê central CNT-FAI. Eventualmente, Ramos fundiu seu partido com a Falange de José Antonio Primo de Rivera. No entanto, Ramo se desiludiu com as teorias corporativistas mais leves de José Antonio, e, eventualmente, demitiu-se do FE-JONS.

Ambos, Ramos e José Antonio, foram assassinados por forças republicanas durante a Guerra Civil Espanhola, permitindo a oportunidade ao general reacionário, Francisco Franco, de cooptar o movimento. Posteriormente Francisco Franco acabara por trair os princípios sindicalistas do partido e permitindo a filiação de setores mais tradicionalistas (monarquistas e teocratas) oque alteraria os princípios do partido.

NACIONAL-BOLCHEVISMO 


Nacional-bolchevismo é muitas vezes incompreendido devido ao seu nome provocativo e paradoxal. No entanto, a ideologia representa uma vertente significativa da terceira posição, em que rejeita tanto o capitalismo como o marxismo.

Basicamente, existem duas vertentes do nacional-bolchevismo, ambas surgidas no início do século XX: a do professor russo, Nikolay Ustryalov; e a do ativista político e professor alemão, Ernst Niekisch.

Nikolay Ustryalov, inicialmente um "russo branco" (contra-revolucionário) inimigo do bolchevismo, eventualmente passa a ver a revolução bolchevique como uma continuação do nacionalismo russo, especialmente considerando as reformas nacionalistas decretadas por Joseph Stalin após a morte de Lenin. Neste ponto, Ustryalov começou teorizar as possibilidades deste novo bolchevismo, que cunhou o nome de "nacional-bolchevismo". No entanto, Ustryalov foi assassinado em 1937 no infame "Grande Expurgo" de Stalin de 1937, sobre acusações de "espionagem, atividade contra-revolucionária e agitação anti-soviética".

Ernst Niekisch era originalmente um membro do Partido Social-Democrata alemão, mas como Otto Strasser, foi expulso por "Promoção de ultra-nacionalismo e anti-semitismo". Como todos os de terceira posição, Niekisch rejeitou o cosmopolitismo do socialismo marxista e afirmou a validade e a necessidade do Estado-nação. Seguindo sua expulsão do SPD, Niekisch Old assumiu o controle do Partido Socialista da Saxônia e estabeleceu um jornal político, Widerstand, que promoveu sua dissidência nacionalista do socialismo.

Niekisch sentia que as políticas socialistas promovidas por Hitler eram muito moderadas, e olhou ao stalinismo como um modelo para a sua campanha Nacional-Bolchevique, em oposição ao hitlerismo.

Em 1932, Niekisch publicou um livro crítico do hitlerismo, intitulado "Hitler: Ein Deutsches Verhängnis". O NSDAP estava ciente do lançamento do livro de Niekisch e ordenaram sua prisão assim que chegaram ao poder em 1933. Eventualmente, Niekisch manteve as atividades de sua organização política "por baixo dos panos", mas foi capturado e enviado para um campo de concentração em 1937. Durante seu tempo em cativeiro, Niekisch ficou cego. Niekisch, após o fim da Segunda Guerra Mundial, como resultado de seu tratamento pelo NSDAP terminou sua carreira política como um marxista ortodoxo, rejeitando o nacionalismo que ele defendia com tanta convicção onze anos atrás.

FASCISMO

Como mencionado acima, o Nacional Sindicalismo representou um tipo de proto-fascismo na Europa. No entanto, como Partido Fascista de Mussolini cresceu e atraiu uma sociedade mais diversificada, político filósofos, como Giovanni Gentile, aderiram ao movimento e forjaram uma nova ideologia para o partido a abraçar. Esta ideologia viria a ser conhecida como o corporativismo.

Comumente ao contrário do que é considerado "corporativismo", o corporativismo desenvolvido pelo movimento fascista italiano não significa a fusão de Estado e do poder corporativo privado.

A estrutura do corporativismo é essencialmente uma forma de sindicalismo. A Câmara Corporativa é uma junção vertical, com três corpos principais sendo representados: o trabalho, o Estado, e os empresários/gestão -com figuras periféricas, como especialistas em economia e da indústria também incluídos no processo de negociação-. Assim, enquanto os meios de produção estão tecnicamente ainda em mãos privadas, o modo de produção capitalista é abolido, com este modelo de cooperativa o substituindo. Proprietários de trabalho e de negócios coletivamente determinam os salários, a estrutura de gestão, investimentos, etc. Com o Estado atuando como um árbitro entre as duas facções.

O modelo corporativista nunca veio para representar o modo de produção para a maioria das empresas na Itália fascista; Em vez disso, a Itália praticava uma forma mais branda de dirigismo do que a que foi praticada pelo Terceiro Reich. Foram promulgadas as políticas de assistência social, que incluiu obras públicas para os desempregados, a política de socialização de cuidados de saúde, habitação a preços acessíveis e atividades de lazer, organizado pela Opera Nazionale Dopolavoro. Sem o conhecimento de muitos, tradicionais cooperativas de trabalhadores sindicalistas também foram reconhecidas oficialmente pelo Estado e autorizados a permanecer em existência na Itália fascista, florescendo em toda a história do regime com as empresas sindicalistas em expansão de 7.131 em 1927 para 14.576 em 1937.

Mussolini não liquidou a família real, a burguesia, ou a posição da Igreja Católica na Itália, mas, eventualmente cabe reconhecer o erro de não fazê-lo quando a família real o traiu e se juntou às forças aliadas na Segunda Guerra Mundial.

Após o NSDAP ter resgatado Mussolini resgatado do cativeiro, eles lhe permitiram estabelecer uma nova república em Salo, Itália, conhecida como a "República Social Italiana". Mussolini, um ex-Nacional-sindicalista que era, decidiu abandonar o corporativismo em nome de uma forma tradicional de socialismo nacionalista. Tendo chamado seu amigo de longa data e ex-membro do Partido Socialista italiano, Nicolai Bombacci, para redigir a legislação para a nova república socialista nacional no Congresso de Verona em 1943. Mussolini conseguiu nacionalizar as principais empresas no Norte da Itália e além disso estabeleceu leis para a nacionalização de todas as empresas com mais de 100 funcionários.

Nicolai Bombacci foi assassinado por guerrilheiros comunistas junto com Mussolini em 1945. Suas últimas palavras foram: "Longa vida à Mussolini! Longa vida ao socialismo!".

Político britânico, Oswald Mosley, originalmente houvera adotado o modelo econômico corporativista promovendo-o dentre as fileiras da União Britânica de Fascistas, mas eventualmente passou a reconhecer as falhas da teoria, adotando assim uma forma de "sindicalismo nacional strasserista" no fim de sua carreira política.

DISTRIBUTISMO

Embora muitas vezes seja menos nacionalista, socialista, e racialista que outras variantes da terceira posição, o distributismo no entanto, é fundamentalmente anti-capitalista e anti-comunista e fora adotado por certos círculos nacionalistas terceiristas da história contemporânea. Portanto, a maioria concorda que distributismo tem um lugar dentro da terceira posição.

A teoria baseia-se os ensinamentos católicos do Papa Leão XIII, que foram expostos em cima por GK Chesterton e Hilaire Belloc no início do século 20.

Distributistas advogam pela descentralização do capital via reforma agrária, e um retorno para o modo artesanal de produção. Distributistas se opõem a todas as formas de usura e favorecerem o que é referido como o "just price theory", que rejeita o sistema de capitalismo de oferta e demanda em uma base moral.

Algumas visões sobre o distributismo o descrevem como sendo impraticável na era pós-industrial, argumentando que a menos que uma reestruturação primitivista da sociedade foram realizadas, distributismo não poderia ser esperado para funcionar bem na idade moderna.

NACIONAL-ANARQUISMO

Na década de 1920 , ao expressar seus pontos de vista de uma sociedade socialista alemã nacionalista descentralizada , Helmut Franke utilizou o termo " anarquismo nacional" para descrever sua teoria. O termo não foi expressado novamente até a década de 1980, quando certos anarquistas europeus começaram a teorizar um anarquismo que também fosse nacionalista em caráter. Esses anarquistas olharam para os sentimentos nacionalistas e racialistas manifestados por Mikhail Bakunin e Pierre-Joseph Proudhon para a inspiração no desenvolvimento de sua ideologia .

Troy Southgate , ex-membro da International Third Position, é um dos principais teóricos nacional-anarquistas contemporâneos.

Nacional-anarquistas advogam pela abolição total dos Estados-nações, que seriam substituídos substituído por comunidades tribais voluntárias , com base na identidade cultural e étnica. Economicamente, nacional-anarquistas favorecerem tudo de relacionado ao mutualismo para o agregamento primitivista.

OUTROS USOS

O termo " terceira posição" obviamente, não é exclusivamente utilizado para descrever os vários movimentos nacionalistas anti-capitalistas e anti-comunistas do início do século 20 . O termo também tem sido utilizado em uma variedade de formas que não têm nada a ver com as ideologias políticas acima mencionadas .

-NO MARXISMO-

O filósofo marxista de origem judaíca, Max Adler, usou o termo "terceira posição " para denotar uma teoria sociológica que ele estabeleceu sobre uma terceira posição na teoria de Marx do materialismo dialético, que rejeita tanto a visão marxista ortodoxa estreita que todos os eventos históricos podem ser entendidos e explicados unicamente por considerar o modo de produção de uma sociedade, e a visão de que a história deve ser vista através das lentes das ações individuais de pessoas em uma dada sociedade -Adler também defendeu uma "terceira posição", na qual o "materialismo dialético compromete o universo inteiro", englobando "todos os setores constituintes da realidade que entram na experiência humana: da natureza, da sociedade e do pensamento"

-NO CAPITALISMO-

Capitalistas também invocaram o termo "terceira posição" para descrever várias correntes ideológicas dentro da teoria de mercado.

A "terceira posição" (às vezes chamada de "terceira via") do capitalismo refere-se a um conceito originalmente teorizado por social-democratas europeus. O ex-presidente americano Bill Clinton abraçara essa ideologia através do apoio a certas políticas de bem-estar que em vez de ter o estado fornecendo os serviços, o Estado iria contratar empresas privadas para faze-las. Tony Blair também abraçou algumas dessas políticas centristas, incorporando-as em uma plataforma do "Novo Trabalhismo" .

Certos partidos políticos capitalistas surgiram usando o termo " terceira posição ", bem como, tais como "American Third Position Party" -que é um partido nacionalista favorecendo uma "terceira posição" entre democratas liberais e republicanos conservadores na sociedade americana.

-TERCEIRA POSIÇÃO CONTEMPORÂNEA-

O regime de Juan Perón na Argentina é frequentemente citado como uma expressão da Terceira Posição. Perón estabeleceu um cporporativismo vertical como o modo de produção dominante, iniciou programas de bem-estar social, e criou indústrias nacionalizadas para competir com o setor privado para manter os preços baixos. Isto se seguiu até o ano de 1955 quando o modelo peronista começou a ser abandonado, em favor de reformas neoliberais desastrosas.

A terceira posição em suas várias formas continua a existir em todo o mundo, com sinais de crescimento na França, Hungria, Grécia e Síria. O que se segue é uma pequena lista de grupos nacionalistas terceiristas ativos:

Organizações social-nacionalistas:


*National Resistance Movement (Alemanha).
*Patriotic Socialist Movement (Espanha).
*Golden Dawn (Grécia)
*Russian National Unity (Rússia)
*National Democratic Party of Germany (Alemanha)

Organizações nacionalistas:


*ATAKA (Bulgária)
*Party of the Swedes (Suécia)
*Jobbik (Hungria)
*National Front (França)

Organizações nacional-sindicalistas:


*CasaPound (Italia).
*Authentic Falange (Espanha).

Organizações nacional-bolcheviques:


*National Bolshevik Front (Rússia e Espanha).
*National Communist Party (Suécia).
*European National Communitarian Party (Bélgica).

Organizações nacional-anarquistas:


*Bay Area National Anarchists (Estados Unidos da América)
*National Anarchists of AUS/NZ (Australia e Nova Zelândia).

FONTES:

*Degrelle, Léon. The First Years of the Third Reich.
*Strasser, Otto. Germany Tomorrow.
*Speer, Albert. Inside the Third Reich.
*Gregor, Anthony J. Mussolini's Intellectuals: Fascist Social and Political Thought.
*Payne, Stanley G. Fascism: Comparison and Definition.
*Payne, Stanley G. Falange: A History of Spanish Fascism.
*Stuart, Robert. Marxism and National Identity: Socialism, Nationalism, and National Socialism During the French Fin de Siecle.
*Overy, Richard J. War and Economy in the Third Reich.
*Domarus, Max. The Complete Hitler.
*Irving, David. Goebbels: Mastermind of the Third Reich.
*Stoddard, Lothrop. Into The Darkness.
*Aly, Götz. Hitler's Beneficiaries.
*Temin, Peter. Soviet and Nazi Economic Planning in the 1930s.
*Schoenbaum, David. Hitler's Social Revolution.
*Pedley and Collier. Germany 1919-45."


Texto retirado de: Frente Social-Nacionalista Brasileira

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Quem ou o que é um ‘’Nacional-Bolchevique’’?

Por Peter Wilberg




Um propagandista de um novo Grande Império Russo?

Um Leninista dogmático ou um cultuador de Stalin?
Um hitlerista ‘’Nacional-socialista’’ ou simplesmente nazista?
Um ateísta ou materialista?



A resposta é não, não, não, não e mais uma vez não!

Um verdadeiro nacional-bolchevique é qualquer um que acredita que todas as nações-grandes ou pequenas deveriam ser governadas diretamente por aqueles e para aqueles que fazem a ’maioria’ (Que é o sentido literal da palavra russa ‘Bolchevique’) e não serem governados por uma minuscula minoria de déspotas estatais, parlamentares fantoches ou banqueiros corruptos e burocratas, que apenas servem o Império do Dinheiro do Sistema Financeiro Capitalista Internacional.

O papel do Bolchevismo em cada nação, hoje é trabalhar para os interesses da maioria (Bolcheviques), por exemplo, os 99% e em particular, libertar essa maioria da servidão do sistema global atual de bancos.

Isso clama pela criação de novos tipos de ‘’Bancos Populares’’, tanto comunal quanto Nacional, providenciando dinheiro livre de juros que compense as necessidades da maioria das pessoas comuns e não as necessidades de 1% de banqueiros super-ricos.

Bancos comerciais privados podem e criam ‘’dinheiro do nada’’ a cada segundo apenas fazendo com que o dinheiro virtual entre nas contas de mutuários. Dinheiro que conta como dinheiro deles e assim fazem com que eles tenham prodigiosos lucros através do comercio de especulação.

Eles constituem um Império de dinheiro que governa as politicas de todas as nações, no qual todos os impérios políticos não são nada mais do que um instrumento, e que seu único deus é o deus do dinheiro.

Se bancos privados podem criar dinheiro virtual, os Bancos Populares também poderiam, porém, a principal diferença é que o dinheiro criado por esses bancos iria pertencer ao povo e a comunidade, e assim os governos poderiam gastar dinheiro nos interesses do povo(a maioria) e não para o lucro privado de poucos.





terça-feira, 12 de maio de 2015

Manifesto Ecossocialista Brasileiro


1) Os ecossocialistas procuram resgatar a herança histórica de luta da humanidade pela justiça social, pela democracia como valor essencial e pelo direito à diferença (de gênero - Homem-Mulher -, da diversidade cultural dos povos e de opções sexuais, religiosas). Afirmam que, como parte dos movimentos que entram em luta por novas formas de relações sociais (socialistas), entram em luta também por novas formas de relação do ser humano com a natureza. Nesse sentido, não somos nem socialistas no sentido estrito, nem ecologistas em sentido estrito: somos ecossocialistas.
2) O "socialismo realmente existente", ao propor a primazia do desenvolvimento das forças produtivas em detrimento de novas relações sociais que permitissem o livre desenvolvimento do ser humano e a proteção do meio ambiente, reproduziu na prática características da sociedade capitalista que pretendia superar.
3) A crise na qual está imersa a humanidade não se restringe ao campo do econômico, mas abrange todo um processo civilizatório com suas crenças e seus valores, inclusive a crença de que a economia é a base da felicidade humana. Daí a necessidade de se repensar os fundamentos filosóficos para a construção de uma nova utopia. Entre esses valores que precisam ser repensados e que fazem parte, inclusive, da herança filosófica de grande parte da esquerda está o antropocentrismo.
4) Para os ecossocialistas, as especificidades do homem como espécie biológica que, por exemplo, tem a propriedade de criar cultura e história não são suficientes para autorizar a visão da natureza como objeto a ser submetido. Para os ecossocialistas, o Homem é parte da natureza, aquela que, inclusive, desenvolveu a consciência. Se vivemos numa sociedade em que a espécie humana perdeu essa consciência da sua naturalidade, esta é mais uma dimensão do processo de alienação a que se chegou.
5) Para os ecossocialistas, a defesa da vida não se restringe à defesa da vida humana, mas se estende a todas as formas de vida.
6) O chamado "socialismo científico", construído a partir das visões científicas do século passado (positivismo, evolucionismo, determinismo), da lógica cartesiana e da física newtoniana (mecânica), deve ser dialeticamente superado. Uma nova visão de mundo, holística, não-compartimentalizada, que reconheça que aquilo que a ciência convencional chama de "LEI" e "ORDEM" é apenas uma parte da realidade, da qual o ACASO também faz parte, constitui-se em novo paradigma sobre o qual poderíamos reformular nossa utopia.
7) Os ecossocialistas recusam a tese de que o homem está destruindo a natureza. Essa tese, ao tratar da questão genericamente, dilui as responsabilidades pela atual devastação do planeta. Numa sociedade fundada no lucro e na propriedade privada, a natureza não está igualmente à disposição do ser humano. A propriedade privada da natureza tira, por exemplo, de grande parte da humanidade o direito de decidir o que dela vai ser feito. Assim, vivemos numa sociedade que gera riqueza (questionável) para poucos, miséria para muitos e degradação ambiental para todos, pondo em risco, inclusive, a própria sobrevivência do planeta.
8) Desse modo, os recursos naturais do planeta não podem ser apropriados sob o regime da propriedade privada com poderes absolutistas do proprietário, mas sim de forma coletiva, democrática, em sintonia com o meio ambiente, e solidária com as gerações futuras.
9) Nesse sentido, é necessário mudar a relação ser humano-natureza, buscando uma relação harmoniosa preocupada com o futuro do planeta. Os interesses dos segmentos, grupos classes, povos e nações têm que ser compatibilizados com o meio ambiente. Para os ecossocialistas, os interesses dos explorados e oprimidos devem ser pensados para além do corporativismo, e para isso é preciso que incorporemos um projeto que seja do interesse de toda a humanidade e de defesa da(s) vida(s) e do planeta. A visão holística inerente aos ecossocialistas é fundamental na superação efetiva do corporativismo, pois implica reconhecer o outro como outro na sua diferença.
10) Para os ecossocialistas, um meio ambiente saudável é incompatível com o capitalismo nas suas duas vertentes, a neoliberal e a social-democrata. A preocupação com o enriquecimento imediato, inerente à lógica do MERCADO e do LUCRO, deve deixar de constituir a base dos valores da humanidade. A separação do homem da terra está na origem e no cerne da sociedade capitalista. Só assim foi possível a mercantilização generalizada dos homens (proletarização) e da natureza. A lógica do mercado, que pressupõe a divisão do trabalho, levou a uma extrema especialização tanto produtiva como do conhecimento. A lógica da concorrência impôs ritmos intensos ao processo de produção, incompatíveis com os fluxos de matéria e energia de cada ecossistema (que ficaram dependentes de insumos energéticos externos), com o equilíbrio psicoafetivo do trabalhador (vide Chaplin em Tempos Modernos) e com os ritmos próprios à vida de cada povo e cultura. Nesse sentido, capitalismo e desenvolvimento auto-sustentável são incompatíveis.
11) A queda do Muro de Berlim e da burocracia com suas políticas secretas sepultou o modo coletivista do Estado autoritário e centralizado, mas não os princípios e os fundamentos de um igualitarismo socialista democrático.
12) No entanto, para a opinião pública mundial ficaram abalados os princípios da supremacia do coletivo sobre o individual e do plano sobre o mercado. Impõe-se a necessidade de repensarmos a relação entre o individual e o social, entre o público e o privado. A luta contra a desigualdade, por exemplo, não é uma luta pela igualdade no sentido estritamente econômico-social. É uma luta para que todos tenham condições iguais para afirmar suas diferenças. Os ecossocialistas recusam uma visão do social que anule o indivíduo. Queremos um social que incorpore a visão de que cada indivíduo é singular, tem a sua originalidade. Queremos um social que permita o desabrochar da criatividade que existe em cada ser humano. Queremos um socialismo (e não um social-ismo) que seja assinado na primeira pessoa, em que cada um se sinta estimulado e responsável individualmente pela sua construção. Não confundimos afirmação da individualidade com individualismo, como, de certa forma, a esquerda até hoje veio fazendo. Como a questão do indivíduo era confundida com o individualismo burguês, ela foi negligenciada e recalcada. No entanto, como ela é parte constitutiva do homem moderno e não era explicitada no seio da esquerda, a questão do indivíduo veio se manifestando de uma maneira perversa por meio dos diversos cultos à personalidade. Aquilo que era negado à maioria sob o pretexto de que se constituía num princípio burguês passou a ser privilégio de alguns poucos (quase sempre do secretário-geral).
13) No entanto, os ecossocialistas propugnam por ampliar radicalmente os espaços das liberdades coletivas e individuais, não restringindo as especificidades do desenvolvimento afetivo, psicológico e cultural.
14) Em uma sociedade em que o poder e a economia estão extremamente centralizados, monopolizados - como a que vivemos, tanto em nível nacional como internacional -, não é possível deixar exclusivamente às forças do mercado a formação dos valores, dos gostos e dos preços. O mercado não gosta dos miseráveis e a justiça social não é mercadoria que dê lucros imediatos. Não queremos trocar o ESTADO TOTAL pelo MERCADO TOTAL. É preciso mesmo indagar-se se existe mercado numa economia oligopolizada.
15) Afirmamos que os princípios da autogestão, da autonomia, da solidariedade (inclusive com as gerações futuras), da defesa da(s) vida(s) e das liberdades, do desenvolvimento espiritual e cultural dos indivíduos e dos povos e das tecnologias alternativas, libertos das amarras do produtivismo e do Estado autoritário, ajudarão a semear e robustecer a utopia transformadora ecossocialista e libertária.
16) Uma das decorrências do antropocentrismo (na verdade, do homem europeu, logo do eurocentrismo) foi (e é) o produtivismo. A crença num homem TODO-PODEROSO que tudo pode submeter está na base da idéia de progresso do mundo moderno. O PROGRESSO entendido como aumento da riqueza material, medido por meio do PIB, impregnou as consciências, inclusive a de muitos que se pensam críticos da sociedade dominante. Para os ecossocialistas, o capitalismo não é somente um modo de produção. É também um modo de vida, um determinado projeto civilizatório, um modo de ser para o ser humano. Não cabe simplesmente questionar o modo de produção-distribuição do capitalismo. Se o capitalismo não permite que todos tenham automóveis, nós, os ecossocialistas, não lutamos para que todos tenham um, pois isso só socializaria o congestionamento. Assim, não questionamos somente o modo como se produz e para quem. Incorporamos à nossa crítica também o BEM-ESTAR. Queremos um BEM-VIVER, que vai além do conforto material. SEM MEDO DE SER FELIZ.
17) Assim, os ecossocialistas questionam os padrões culturais de consumo que são condicionados pelo modo de produção. Diferenciamo-nos dos demais ecologistas, pois não ficamos na crítica ao consumismo, uma vez que esta é a face aparente de uma sociedade que, no fundo, é produtivista. O produtivismo-consumismo é, por sua vez, filho direto dos valores antropocêntricos que a sociedade capitalista leva ao paroxismo com sua visão da riqueza imediata, do lucro e da extrema fragmentação/especialização da produção, inclusive da produção do conhecimento.
18) A crítica ecossocialista da matriz produtivista-consumista dos atuais modelos de desenvolvimento predatórios, embotantes e desumanos se dirige também à proposta de "crescimento zero" ou do anticonsumismo monástico para o Terceiro Mundo. Propomos, sim, um redirecionamento da produção-consumo que vise prioritariamente a superação da miséria, tanto material como espiritual, e uma gestão democrática dos recursos. Para os ecossocialistas, a produção não é um fim em si mesma, mas um meio para a efetivação de uma sociedade igualitária baseada na radicalização democrática (que combina democracia direta e representativa).
19) A tese do "crescimento zero" demonstrou toda a sua fragilidade sobretudo na última década de recessão e desemprego, com queda do PIB. Mesmo nesse contexto, a degradação ambiental só fez progredir. Nada temos contra o crescimento se ele for baseado na proteção da natureza e na gestão democrática dos recursos. O crescimento do ser humano não pode ser reduzido ao consumo de bens materiais. Não queremos substituir o SER pelo TER. Essa é a utopia capitalista.
20) Para os ecossocialistas, o trabalhador não se define como "mão-de-obra" ou "força-de-trabalho", mas como um ser humano pleno e complexo, com direitos integrais de cidadania. Não reduzimos o ser humano ao mundo da produção, nem tampouco à sua dimensão econômica. A economia é apenas um instrumento a serviço da sociedade, e não o contrário, como acontece no capitalismo, e, portanto, deve estar subordinada democraticamente aos cidadãos.
21) Os ecossocialistas não entendem que os proletários fabris e rurais sejam os únicos agentes da transformação social. Há um movimento real, constituído por diferentes movimentos sociais, que procura suprimir o estado de coisas existentes. São pessoas que pelas mais diferentes razões rompem a sua inércia e vêm para o espaço público construir novos direitos.
22) Os ecossocialistas propõem novos critérios para a elaboração da contabilidade nacional, em que sejam computados os custos da degradação do meio ambiente, como, por exemplo, a perda da biodiversidade, do fundo de fertilidade da terra (e da água), dos mananciais. A poluição é um claro exemplo de socialização dos prejuízos e da privatização dos benefícios. Para nós são indicadores do desenvolvimento o tempo livre e o avanço cultural do povo e, para isso, é fundamental retomar a luta pela diminuição da jornada de trabalho. Não existe nenhum limite natural para a jornada de trabalho. Ele é claramente político e é o resultado das lutas de classes. Entendemos que o trabalho é uma necessidade e, como tal, deve ser democraticamente gerenciado e reduzido para que o homem possa ser livre.
23) A sociedade americana, paradigma de desenvolvimento na ótica dominante, no seu afã produtivista-consumista, chegou à insana condição de, com apenas 6% da população mundial, consumir 25% da produção mundial do petróleo. Desse modo, se 24% da população mundial tivesse o padrão cultural da sociedade norte-americana, consumiria 100% do petróleo mundial. Esse modelo se mostra, assim, definitivamente, não só devastador-poluidor como também excludente socialmente. Se na utopia capitalista a felicidade deve ser alcançada por meio do consumo de bens materiais com todas as conseqüências já apuradas, nós, ecossocialistas, propugnamos a luta por um redirecionamento do que seja riqueza que incorpore, inclusive, a dimensão ética, pois deve ser estendida a todos os seres humanos e se pautar no direito à vida de todos os seres vivos. A sociedade moderna surgiu apoiada numa ética do trabalho, que, no entanto, vem sendo substituída pela ética do consumo. É preciso superarmos, dialeticamente, a ambas.
24) a ciência e a tecnologia são indispensáveis para a construção da sociedade ecossocialista, em que haja a superação do desperdício e da devastação e a diminuição da jornada de trabalho (o tempo livre). Todavia não podemos cair no mito nacionalista de que a ciência e a tecnologia são os únicos motores para se alcançar tal fim. É a própria noção de riqueza e trabalho que precisa ser reelaborada. Outras sociedades, menos complexas tecnologicamente do que a nossa, foram capazes de subordinar o trabalho e não se escravizar a ele.
25) A luta pela construção do ecossocialismo passa, necessariamente, pela invenção de novas tecnologias e por uma apropriação crítica do complexo tecnológico hoje à disposição da humanidade. Nesse sentido, devemos estar atentos e abertos a todo o complexo científico-tecnológico que o conhecimento humano produziu e, sobretudo, saber adequá-lo às particularidades socioculturais de nosso povo, tanto para recusá-lo como para dele nos apropriar.
26) Até agora o movimento popular e sindical tem se preocupado com a questão tecnológica basicamente por seu impacto no (des)emprego, com ênfase nas conseqüências da robótica e da informática. Esse é um aspecto importante e por intermédio dele é possível perceber com clareza que a redução da jornada de trabalho se constitui numa bandeira extremamente moderna e atual. No entanto, há um outro lado da questão que precisa ser aprofundado: em muitos casos o trabalhador tem vendido a sua saúde (insalubridade como adicional no salário) em vez de lutar pela despoluição das fábricas e dos processos de produção, deixando intacta a matriz tecnológica do capital. Os ecologistas lançam junto aos sindicatos e à classe trabalhadora a luta política pelas tecnologias limpas e um ambiente de trabalho saudável, tanto no aspecto bio-físico-químico como no psicossocial. Devemos, pois, assumir a luta por tecnologias que minimizem o impacto agressivo sobre a saúde e a vida de quem produz e o meio ambiente, patrimônio da população e base de sua qualidade de vida. A luta pela substituição das tecnologias sujas que usam o benzeno, o mercúrio, o ascarel, o asbesto, os agrotóxicos e o jateamento de areia (nos estaleiros, por exemplo), entre outros, supõe o aumento da consciência de classe e, por incorporar a dimensão ecológica, torna-se uma questão de interesse de toda a humanidade, contribuindo para superar o corporativismo. Ambientes de produção ecologicamente seguros são condição preliminar para que todo o ambiente seja despoluído. O segredo comercial, normalmente invocado pelo capital para não revelar a composição química de seus produtos, não pode estar acima da vida.
27) As chamadas tecnologias limpas não se resumem ao tratamento da saúde, dos efluentes e dos despejos, mas implicam a despoluição de todo o processo de produção em todas as suas fases. O ecossocialismo não quer limpar a atual organização do processo produtivo sem alterar seus princípios e sua lógica de funcionamento. Não queremos pintar de verde a fachada do prédio do capitalismo predatório, mantendo inalterada sua lógica de exploração, exclusão e desigualdades. Assim, a bandeira das tecnologias limpas deve se associar às transformações na estrutura da propriedade, de distribuição e da natureza do consumo final.
28) Para efetivar esta bandeira torna-se fundamental uma articulação entre a comunidade científica, o movimento ambientalista e o movimento popular e sindical. Isolados estes, as teses ficam nas gavetas e a chantagem patronal joga trabalhadores e ecologistas uns contra os outros. São os trabalhadores que vivem cotidianamente submetidos às piores condições ambientais, tanto no seu local de trabalho como em sua moradia. É preciso, no entanto, romper com o corporativismo que opõe trabalhadores de um lado e ambientalistas e cientistas de outro. Se os trabalhadores, por exemplo, não têm onde morar e, constrangidos, invadem áreas de interesse público, como mananciais, é preciso afirmar que nesse caso a questão habitacional torna-se de interesse público e haveremos de buscar alternativas para que os trabalhadores tenham um teto e o manancial seja preservado. Assim, é preciso reverter o corporativismo e a alienação a ele vinculada, aprofundando a luta política, cimentando a concepção de uma nova sociedade fundada em um outro tipo de desenvolvimento tecnológico.
29) Os ecossocialistas propugnam pela reciclagem dos resíduos e materiais, pela descentralização geográfica da economia e da política, pelo combate ao desperdício e à obsolescência precoce planejada do produto. A durabilidade deve se constituir num critério de qualidade do produto. Estas são bandeiras que devem estar associadas à luta contra a pobreza (material e simbólica), contra a concentração de terra e renda e contra a dependência externa.
30) A conversão gradual do complexo militar e industrial para uma economia voltada para um desenvolvimento autogerido, democrático e sustentável deve ser acompanhada pela transformação radical dos critérios de investigação de ecotécnicas, tecnologias economicamente eficientes, poupadoras de energia, descentralizáveis (tanto no plano técnico como no político), ecologicamente seguras e capazes de serem apropriadas e geridas pelo trabalho coletivo.
31) A tendência atual do capitalismo de diminuir cada vez mais o número de trabalhadores do processo de produção material, aumentando enormemente a capacidade de produção, tem como um dos sustentáculos a manipulação do desejo, a fabricação capitalista da subjetividade por meio da mídia, sobretudo da televisão. Este tem sido um poderoso instrumento político dos grandes monopólios. A democratização dos meios de comunicação torna-se essencial. Pela "Reforma Agrária do AR".
32) A defesa do ensino público, gratuito e de qualidade em todos os níveis é fundamental para que criemos um complexo científico-tecnológico que contribua para um desenvolvimento ecologicamente seguro, voltado para o interesse comum e a soberania dos povos. Só com um estreitamento profundo da universidade com os interesses da grande maioria do povo será possível quebrar o mito da neutralidade das forças produtivas. A busca de um paradigma filosófico e científico não-reducionista é parte da luta por uma universidade de qualidade e voltada para o interesse comum.
33) Um projeto ecossocialista pressupõe as reformas agrária e urbana, que devem ser pensadas na sua articulação com a matriz energética. O incentivo às formas de geração de energia descentralizadas como miniusinas, biodigestores, eólica (vento) e solar é importante no sentido de democratizar o acesso à energia sem aumentar a pressão sobre a atual matriz energética, esta sim excludente, com vistas a possibilitar o desenvolvimento de pequenas e médias cidades. Essa preocupação não deve nos omitir das responsabilidades referentes aos problemas das grandes cidades, exigindo a proteção das encostas, dos mananciais e fundos de vales, a primazia do transporte coletivo sobre o individual, o uso do gás como combustível, as ciclovias, a reciclagem do lixo urbano e outras propostas.
34) Na sociedade atual há um verdadeiro culto à centralização, à concentração e ao que é grande (ao maior) sob o pretexto de que seriam mais eficientes. Combatemos radicalmente esse princípio, não por um culto ingênuo ao pequeno, ao menor, mas sim pela hierarquização e centralização do poder que os MEGAPROJETOS comportam. O limite de tamanho é desigual para as diferentes atividades e sociedades e não é uma questão de ordem exclusivamente técnica, embora comporte, como tudo, um lado técnico do fazer. Como tal, o limite do tamanho é sobretudo do campo político e, assim, deve ser estabelecido a partir de uma base democrática e autogestionária. Não é difícil perceber a íntima relação entre os MEGAPROJETOS no Brasil (Tucuruí, Jari, Carajás, Angra I e II, Itaipu...) e o suporte autoritário que os criou. E aqui não devemos confundir o autoritarismo com sua fachada aparente que foi a ditadura militar, mas, sobretudo, ver os vínculos profundos que mantém com o capital monopolista.
35) Os ecossocialistas lutam pelo desenvolvimento de formas democráticas e participativas de gestão em todos os níveis, desde o local de trabalho até o Parlamento, por meio da combinação da democracia direta e da representativa. Acreditamos ser esta uma forma evoluída de gestão política e administrativa. Os cidadãos trabalhadores devem ter uma noção geral dos problemas e participar criativamente das soluções, substituindo a visão fragmentária por uma visão holística (que se preocupa com a relação das partes entre si, das partes com o todo e com a relação do TODO retroagindo sobre as partes). Para isso são necessários tanto um processo educacional que, ao mesmo tempo que estimule o senso crítico e a criatividade, vise o interesse público como uma radical democratização dos meios de comunicação. Sem essas condições as mudanças no regime de propriedade e nas formas de gestão, que estão associadas, ficam comprometidas.
36) Para os ecossocialistas uma nova ética revolucionária é precondição de uma nova política: os FINS não justificam os MEIOS. As práticas autoritárias, machistas, elitistas, militarizadas e predatórias só fundamental uma falsa transformação, sem a afirmação de novos valores para uma nova sociedade.
37) Essa nova ética ecológica planetária é incompatível com a exportação de lixo químico dos países ricos para os países periféricos e inconciliável com os testes nucleares que transformam o planeta em laboratório e a população em cobaia. Sobretudo agora, quando caiu o Muro e com ele toda a lógica da Guerra Fria e sua corrida armamentista, torna-se necessária a desnuclearização do mundo para que a política não fique submetida àqueles que têm o poder de definir a morte. A queda da burocracia no Leste Europeu, saudada por todos os verdadeiros socialistas, deixou, por outro lado, o imperialismo de mãos livres para apertar o botão.
38) Defendemos uma nova divisão internacional do trabalho radicalmente diferente da atual, em que os países ricos se reservam as tecnologias de ponta, como a robótica, a biotecnologia, a química fina e o laser, e relocalizam no Terceiro Mundo as indústrias sujas, altamente degradadoras do meio ambiente e consumidoras de energia, inclusive do próprio homem. Uma nova ética ecológica planetária supõe intercâmbio, cooperação, paz, solidariedade e liberdade no lugar da hipocrisia do nacionalismo chauvinista que justifica as próprias agressões praticadas por cada governo e empresas contra suas próprias populações e seu meio ambiente. O direito à autodeterminação dos povos não pode ser invocado para destruí-los, assim como suas fontes naturais de vida. Um novo conceito de soberania é necessário, incorporando uma ética ecológica.
39) O ecossocialismo não se constrói num só país nem numa só direção. A solidariedade entre todos aqueles que são negados em sua humanidade, por serem explorados e oprimidos, se faz pelo reconhecimento de que formamos uma mesma espécie, cujo maior patrimônio é nossa diferença cultural. Uma posição verdadeiramente revolucionária, ecossocialista, reconhece que habitamos uma mesma casa, o planeta Terra, que, por sua vez, vem sendo ameaçado por um internacionalismo fundado no dinheiro e no lucro e por um poder altamente concentrado: o IMPERIALISMO.
40) Os ecossocialistas entendem que é necessário romper com a idéia restrita de revolução, originária da mitológica tomada de assalto do poder, militarizada e, por sua vez, derivada de uma restrita visão do Estado. Afirmamos que inexiste o tal corte absoluto mistificado na história, uma vez que o processo de transformação social é composto não por uma, mas por várias rupturas, descontinuidades, desníveis e disfunções. No entanto, numa sociedade em que o poder está hierarquizado, do cotidiano familiar ao aparelho de Estado, passando pelos locais de trabalho, as diversas rupturas nos diversos níveis têm contribuições diferenciadas, embora todas essenciais num verdadeiro processo de transformação, aliás em curso. Aqui se faz necessária, mais uma vez, uma visão que dialetize a relação entre as partes e o todo. Os debates acerca dessa questão vêm ganhando maior profundidade no seio da esquerda. Mesmo aqueles que procuram afirmar a idéia de uma ruptura têm apontado que ela implica o estabelecimento de novas relações entre o Estado e a sociedade civil, entre partidos e sindicatos e demais movimentos populares. Apontam que o socialismo se torna uma necessidade reconhecida pela população quando no processo de luta evidenciamos os limites de desenvolvimento capitalista. Esses limites são evidenciados, por sua vez, quando a burguesia rejeita propostas humanização em geral, em particular no tocante à socialização da propriedade. Desse modo, a ruptura deve ser entendida como o resultado prático e teórico da dialética reformas / revolução. Nesta dialética é fundamental, portanto, entender que a teoria e a prática para uma sociedade socialista devem existir já a partir do capitalismo, embora condicionada pelos limites e barreiras dessa sociedade. Aí são fundamentais, por exemplo, os Conselhos Populares. Estes devem ser organizações da sociedade civil autônomas em relação ao Estado e aos partidos, atuando como verdadeiros laboratórios de construção de hegemonias. Assim, a democracia socialista não é simplesmente a negação da democracia capitalista, mas sim a sua superação. Se a democracia é um valor estratégico, como acreditamos, e não tático, e o poder não se localiza em um lugar restrito, como no aparelho de Estado, por exemplo, devemos instituir práticas democráticas em todos os lugares de interesse público, inclusive nas unidades de produção (empresas / locais de trabalho), o que implica repensar o regime de propriedade. Afinal, assim como os fluxos de matéria e energia dos ecossistemas e mesmo da sociedade transcendem as fronteiras nacionais, o mesmo ocorre com as cercas e fronteiras da propriedade privada.
41) Por fim, a atual crise que afeta a humanidade expressa na descrença com relação ao futuro, no hipocondrismo, no alcoolismo, na violência cotidiana, no estresse, na apatia e no consumo indiscriminado de drogas em geral mostra a decadência do atual modelo de desenvolvimento. Repudiamos a militarização do combate às drogas que vem substituindo a antiga caça aos comunistas. A militarização no combate às drogas acaba por escamotear a verdadeira questão: o esvaziamento do sentido da vida, a instrumentalização mercantilizada do desejo, a vida sem direito a fantasias típicas da sociedade que transformou a liberdade "numa calça velha, azul e desbotada", conforme um anúncio publicitário. Nós, ecossocialistas, reconhecemos que, se é, num certo sentido, verdadeiro que ninguém vive de fantasia, também é verdadeiro que a dimensão da fantasia é inerente à vida. Assim, repudiamos a sociedade que reduz a fantasia à sua por intermédio da droga.
Sem medo de ser feliz!
Secretaria Nacional de Movimentos Populares
Subsecretaria Nacional dos Ecologistas do PT



quinta-feira, 26 de março de 2015

Manifesto Ecossocialista Internacional

Brasil, maio de 2003



INTRODUÇÃO

A idéia deste manifesto ecossocialista foi lançada por Joel Kovel e Michael Löwy no painel sobre ecologia e socialismo realizado em Vincennes, cidade próxima de Paris, em setembro de 2001. Todos agüentamos a doença crônica do paradoxo de Gramsci, de viver numa época em que a velha ordem agoniza (levando consigo a civilização) enquanto a nova ordem parece não ser capaz de nascer. Mas, ao menos, pode ser noticiada. A sombra mais obscura que se apresenta sobre o presente não é o terror, nem o desastre ambiental, nem a recessão ou a depressão mundial, senão o fatalismo internalizado que afirma não existir outra possibilidade de ordem mundial que não seja a do capital. Por isso queremos recusar deliberadamente o estado de ânimo atual de submissão inquieta e ascensão passiva.

O ecossocialismo não é ainda um espectro, tampouco está baseado em partido político ou movimento concreto. É somente uma alínea racional que parte de uma determinada interpretação da crise atual e das condiciones necessárias para supera-la. Não temos nenhuma pretensão de onisciência. Pelo contrário, nossa meta é convidar ao diálogo, a discussão, as emendas e, sobretudo, pensarmos como podemos efetivar está idéia. Por todos os lugares do universo caótico do capital mundial surgem espontaneamente pontos inumeráveis de resistência. Muitos são intrinsecamente ecossocialistas em seu conteúdo. Como poderíamos fazer para que confluíssem todos eles? Podemos pensar numa "internacional ecossocialista?” O espectro, poderia chegar a materializar-se? Propomos aos leitores a reflexão e que leitores que respondam a esta indagação.

O Manifesto foi publicado inicialmente como editorial, com dezoito subscrições, na revista Capitalism, Nature, Socialism - A Journal of Socialist Ecology (http://gate.cruzio.com/~cns/backissues/cont49.html), Vol. 13(1), março de 2002. Esta publicação em português é acompanhada da subscrição de 47 assinaturas de ambientalistas brasileiros.

MANIFESTO ECOSSOCIALISTA INTERNACIONAL

O século XXI se inicia com uma nota catastrófica, com um grau sem precedentes de desastres ecológicos e uma ordem mundial caótica, cercada por terror e focos de guerras localizadas e desintegradoras, que se espalham como uma gangrena pelos grandes troncos do planeta África Central, Oriente Médio, América do Sul e do Norte , ecoando por todas as nações.

Na nossa visão, as crises ecológicas e o colapso social estão profundamente relacionados e deveriam ser vistos como manifestações diferentes das mesmas forças estruturais. As primeiras derivam, de uma maneira geral, da industrialização massiva, que ultrapassou a capacidade da Terra absorver e conter a instabilidade ecológica. O segundo deriva da forma de imperialismo conhecida como globalização, com seus efeitos desintegradores sobre as sociedades que se colocam em seu caminho. Ainda, essas forças subjacentes são essencialmente diferentes aspectos do mesmo movimento, devendo ser identificadas como a dinâmica central que move o todo: a expansão do sistema capitalista mundial.

Rejeitamos todo tipo de eufemismos ou propaganda que suavizem a brutalidade do sistema: todo mascaramento de seus custos ecológicos, toda mistificação dos custos humanos sob os nomes de democracia e direitos humanos. Ao contrário, insistimos em enxergar o capital a partir daquilo que ele realmente fez.

Agindo sobre a natureza e seu equilíbrio ecológico, o sistema, com seu imperativo de expansão constante da lucratividade, expõe ecossistemas a poluentes desestabilizadores, fragmenta habitats que evoluíram milhões de anos de modo a permitir o surgimento de organismos, dilapida recursos, e reduz a vitalidade sensual da natureza às frias trocas necessárias à acumulação de capital.

Do lado da humanidade, com suas exigências de autodeterminação, comunidade e existência plena de sentido, o capital reduz a maioria das pessoas do mundo a mero reservatório de mão-de-obra, ao mesmo tempo em que descarta os considerados inúteis. O capital invadiu e minou a integridade das comunidades por meio de uma cultura de massas global de consumismo e despolitização. Ele expandiu as disparidades de riqueza e de poder em níveis sem precedentes na história. Trabalhou lado a lado com uma rede de Estados corruptos e subservientes, cujas elites locais, poupando o centro, executam o trabalho de repressão. O capital também colocou em funcionamento, sob a supervisão das potências ocidentais e da superpotência norte-americana, uma rede de organizações trans-estatais
destinada a minar a autonomia da periferia, atando-a às suas dívidas enquanto mantém um enorme aparato militar que força a obediência ao centro capitalista.

Nós entendemos que o atual sistema capitalista não pode regular, muito menos superar, as crises que deflagrou. Ele não pode resolver a crise ecológica porque fazê-lo implica em colocar limites ao processo de acumulação uma opção inaceitável para um sistema baseado na regra “cresça ou morra!”. Tampouco ele pode resolver a crise posta pelo terror ou outras formas de rebelião violenta, porque fazê-lo significaria abandonar a lógica do império, impondo limites inaceitáveis ao crescimento e ao “estilo de vida” sustentado pelo império. Sua única opção é recorrer à força bruta, incrementando a alienação e semeando mais terrorismo e contra-terrorismo,  gerando assim uma nova variante de fascismo.

Em suma, o sistema capitalista mundial está historicamente falido. Tornou-se  um império incapaz de se adaptar, cujo gigantismo expõe sua fraqueza subjacente. O sistema capitalista mundial é, na linguagem da ecologia, profundamente insustentável e, para que haja futuro, deve ser fundamentalmente transformado ou substituído.

É dessa forma que retornamos à dura escolha apresentada por Rosa Luxemburgo: “Socialismo ou Barbárie!”, em que a face da última está impressa neste século que se inicia na forma de eco-catástrofe, terror e contra-terror e sua degeneração fascista.

Mas por que socialismo, por que reviver esta palavra aparentemente consignada ao lixo da história pelos equívocos de suas interpretações no século XX? Por uma única razão: embora castigada e não realizada, a noção de socialismo ainda permanece atual para a superação do capital. Se o capital deve ser superado, uma tarefa dada como urgente considerando a própria sobrevivência da civilização, o resultado será necessariamente “socialista”, pois esse é o termo que designa a passagem a uma sociedade pós-capitalista. Se dizemos que o capital é radicalmente insustentável e se degenera em barbárie, delineada acima, então estamos também dizendo que precisamos construir um “socialismo” capaz de superar as crises que o capital iniciou. E se os “socialismos” do passado falharam nisso, é nosso dever, se escolhemos um fim outro que não a barbárie, lutar por um socialismo que triunfe. Da mesma forma que a barbárie mudou desde os tempos em que Rosa Luxemburgo enunciou sua profética alternativa, também o nome e a realidade do “socialismo” devem ser adequados aos tempos atuais.

É por essas razões que escolhemos nomear nossa interpretação de “socialismo” como um ecossocialismo, e nos dedicar à sua realização.

Por que Ecossocialismo?

Entendemos o ecossocialismo não como negação, mas como realização dos socialismos da “primeira época” do século vinte, no contexto da crise ecológica. Como seus antecessores, o ecossocialismo se baseia na visão de que capital é trabalho passado reificado, e se fortalece a partir do livre desenvolvimento de todos os produtores, ou em outras palavras, a partir da não separação entre produtores e meios de produção. Entendemos que essa meta não teve sua implementação possível no socialismo da “primeira época”. As razões dessa impossibilidade são demasiadamente complexas para serem aqui rapidamente abordadas, cabendo, entretanto, mencionar os diversos efeitos do subdesenvolvimento no contexto de hostilidade por parte das potências capitalistas. Essa conjuntura teve efeitos nefastos sobre os socialismos existentes, principalmente no que ser refere à negação da democracia interna associada à apologia do produtivismo capitalista, o que conduziu ao colapso dessas sociedades e à ruína de seus ambientes naturais.

O ecossocialismo retém os objetivos emancipatórios do socialismo da “primeira época”, ao mesmo tempo em que rejeita tanto os objetivos reformistas da social-democracia quanto às estruturas produtivistas das variações burocráticas do socialismo. O ecossocialismo insiste em redefinir a trajetória e objetivo da produção socialista em um contexto ecológico. Ele o faz especificamente em relação aos “limites ao crescimento”, essencial para a sustentabilidade da sociedade. Isso sem, no entanto, impor escassez, sofrimento ou repressão à sociedade. O objetivo é a transformação das necessidades, uma profunda mudança de dimensão qualitativa, não quantitativa. Do ponto de vista da produção de mercadorias, isso se traduz em uma valorização dos valores de uso em detrimento dos valores de troca um projeto de relevância de longo prazo baseado na atividade econômica
imediata.

A generalização da produção ecológica sob condições socialistas pode fornecer a base para superação das crises atuais. Uma sociedade de produtores livremente associados não cessa sua própria democratização. Ela deve insistir em libertar todos os seres humanos como seu objetivo e fundamento. Ela supera assim o impulso imperialista subjetiva e objetivamente. Ao realizar tal objetivo, essa sociedade luta para superar todas as formas de dominação, incluindo, especialmente, aquelas de gênero e raça. Ela supera as condições que conduzem a distorções fundamentalistas e suas manifestações terroristas. Em síntese, essa sociedade se coloca em harmonia ecológica com a natureza em um grau impensável sob as condições atuais. Um resultado prático dessas tendências poderia se expressar, por exemplo, no desaparecimento da dependência de combustíveis fósseis característica do capitalismo industrial , que, por sua vez, poderia fornecer a base material para o resgate das terras subjugadas pelo imperialismo do petróleo, ao mesmo tempo em que possibilitaria a contenção do aquecimento global e de outras aflições da crise ecológica.

Ninguém pode ler estas recomendações sem pensar primeiro em quantas questões práticas e teóricas elas suscitam e, segundo e mais desesperançosamente, em quão remotas elas são em relação à atual configuração do mundo, tanto no que se refere ao que está baseado nas instituições quanto no que está registrado nas consciências. Não precisamos elaborar estes pontos, os quais deveriam ser instantaneamente reconhecidos por todos. Mas insistimos que eles devem ser tomados na perspectiva adequada. Nosso projeto não é nem detalhar cada passo deste caminho nem se render ao adversário devido à preponderância do poder que ostenta. Nosso projeto consiste em desenvolver a lógica de uma suficiente e necessária transformação da atual ordem e começar a dar os passos intermediários em direção a esse objetivo. O fazemos para pensar mais profundamente nessas possibilidades e, ao mesmo tempo, iniciar o trabalho de reunir aqueles de idéias semelhantes. Se existe algum mérito nesses argumentos, então ele precisa servir para que práticas e visões semelhantes germinem de maneira coordenada em diversos pontos do globo. O ecossocialismo será universal e internacional, ou não será. As crises de nosso tempo podem e devem ser vistas como oportunidades revolucionárias, e como tal temos o dever de afirmálas e concretizá-las.

David Barkin, Arran Gare, Howie Hawkins, Joel Kovel, Richard Lichtman, Peter Linebaugh, Ariel Salleh, Walt Sheasby, Ahmet Tonak, Victor Wallis (Estados Unidos), Laurent Garrouste, Jean-Marie Harribey, Michael Löwy, Pierre Rousset, Bernard Teisseire (França), Charles-André Udry (Suiça), Cristobal Cervantes, José Tapia (Espanha), Renan Vega (Colômbia), Isabel Loureiro, Marcos Barbosa de Oliveira, Renata Menasche (Brasil).

1. Gilney Viana - Secretário Nacional de Desenvolvimento Sustentável Ministério do Meio Ambiente
2. João Bosco Senra - Secretário Nacional de Recursos Hídricos/Ministério do Meio Ambiente
3. Pedro Ivo Batista - Coordenador da Agenda 21 Brasileira Ministério do Meio Ambiente
4. João Alfredo - Deputado Federal PT CE
5. Elvino Bohn Gass - Deputado Estadual PT RS
6. Leandro César Signori - Executiva da SEMAD/PT - RS
7. Temístocles Marcelos Neto - Coordenador da Comissão Nacional de Meio Ambiente da CUT
8. Darci Campani - Vereador do PT em Porto Alegre e Professor da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
9. Dieter Wartchow - Secretário do Meio Ambiente Porto Alegre - RS
10. Fernando Maia - Secretário do Meio Ambiente Belém PA
11. Alexandre Melo - Secretário de Qualidade Ambiental Pelotas - RS
12. Cecylia Hipólito - Gerente Executiva IBAMA RS
13. Isabel Loureiro - Professora da UNESP Universidade Estadual de São Paulo
14. Marcos Barbosa - Professor da USP - Universidade de São Paulo
15. Luiz Roberto Santos Moraes - Professor da UFBA - Universidade Federal da Bahia
16. José de Castro - escritor e professor aposentado da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
17. André Lima - Professor da UERGS - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
18. Francisco Auto Filho - Professor da UECE - Universidade Estadual do Ceará
19. Maurício Waldman - Antropólogo, ex-colaborador de Chico Mendes
20. Vânia Chaigar - Professora substituta da UFPEL - Universidade Federal de Pelotas RS
21. Álvaro Alencar - Executiva da SMAD/PT
22. Alessandro Pires Barcellos - Executiva da SMAD/PT
23. Sérgio Ricardo - Executiva da SMAD
24. Socorro Gonçalves - Ambientalista, Presidenta do Instituto TERRAZUL Fortaleza CE
25. Cimara Machado - ambientalista, Presidenta do CEA Centro de Estudos Ambientais Pelotas - RS
26. Alexsander Pacico - Ex-Superintendente Regional CORSAN RS
27. Ana Leônia de Araújo - Acadêmica de Agronomia CE
28. André Lima - Acadêmico de Economia da Universidade Federal do Ceará e militante da Juventude Alternativa Socialista CE
29. Antonio Soler - Advogado ambientalista, Supervisor do Meio Ambiente/SMAM Porto Alegre
30. Cláudio Brayer Pereira - Assessor do IBAMA RS
31. Cláudio Hiran Alves Duarte - Presidente da AAJ - Associação Americana de Juristas Seção RS
32. Eduardo Santa Helena - Administrador militante do PT RS
34. Geórgia Mocelin - advogada ambientalista RJ
35. Ibero Cristiano Pereira Hipólito - Diretor do Instituto AMA/RN - Comunicação, Meio Ambiente, Cidadania
e Políticas Públicas RN
36. Jaqueline Balconi - Engenheira Química RS
37. Joel Ivo Balconi - Arquiteto Florianópolis SC
38. Josael Jairo Santos Lima - Fórum em Defesa da Zona Costeira do Ceará, do Fórum Cearense do Meio
Ambiente e Instituto TERRAZUL
39. Jovanil Oliveira - Geógrafo Fortaleza CE
40. Joyce Enzler - Ambientalista RJ
41. Maurício Pascoal - Coordenador de Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário da Secretaria
do Meio Ambiente Belém Pa
42. Renato Rosseno - advogado ambientalista Fortaleza CE
43. Ricardo Rover Machado - Ex-Superintendente Regional CORSAN RS
44. Roberto Bannwart Tavares - Cientista Social RJ
45. Ronimar Del Pino - Coordenador de Relações Externas DMLU Porto Alegre RS
46. Rui Porto Rodrigues - Ex- Diretor Superintendente da Fundação CORSAN
47. Sirlanda Selau - ativista da juventude RS